(imagem retirada da internet)
Na passada sexta feira, estava no meu compromisso matinal e vejo a dirigir-se para mim um casal de aproximadamente 60 anos. Ao atende-los, depois dos habituais e educados cumprimentos, a senhora muito sorridente diz-me que os livros que levava eram um presente do marido para o dia dos Namorados.
Ao arrumarmos as coisas, vejo a senhora a falar com o marido com muita ternura. Este, com um belíssimo sentido de humor, notei que tinha os movimentos um pouco limitados daí que, precisou de ajuda para conseguir levar as coisas.
Ao pagar as compras, a senhora diz ao marido que este tem de lhe escrever uma dedicatória nos livros. Mesmo dizendo que não gostava de escrever, o senhor sorri e lá diz que sim.
Depois de já estarem prontos para ir embora, a senhora suspira e diz-me que, todos os dias agora valem ouro e, talvez de forma egoísta, queira aproveitar todos os momentos que tem a dois, de modo a construir mais e mais memórias. Sempre o considerou mas, mais especialmente agora pois tinha sido diagnosticado há um ano, Alzheimer ao marido.
Já com os olhos rasos de água, a senhora comenta que a vida é realmente muito breve e incerta e que apenas lhe restava juntar aos 40 anos juntos, mais memórias e bons momentos, enquanto o marido a reconhece, bem como tornar os seus dias o mais digno e especial possível.
Ao despedirem-se mim, foram-se embora de braço dado, sendo que, a senhora nunca tirou o sorriso do rosto.
Esta história deixou em mim um misto de sentires. Primeiro, de compaixão para com ambos, depois ternura e admiração pelo facto da senhora, com todos os motivos para se deixar ir abaixo, não o fez. O seu objectivo principal é aproveitar a companhia do marido enquanto este mentalmente está cá, fazendo questão de o fazer com um imenso sorriso no rosto.
Admiro de sobremaneira estas pessoas que, mesmo sabendo o que gradualmente irá suceder, conseguem focar-se e viver o mais intensamente possível, o Agora.
É com estas situações que, surge uma redobrada vontade de abraçar, beijar, valorizar e aproveitar a estadia e presença dos nossos. Que não deixemos de o fazer diariamente!