(imagem retirada da internet)
Hoje, enquanto me dirigia para a entrada de uma superfície comercial, vim lado a lado com uma senhora que também ia entrar. Ouço-a a fungar, uma e duas vezes, achando que não era som de simples constipação, e por isso decidi olhar. Ao faze-lo, vi a sua face coberta de lágrimas. Ao vê-la assim, primeiro pensei se devia, e depois decidi perguntar se estava tudo bem (pergunta esta já com resposta…). Continuando a olhar para o chão, a senhora suspira, olha para mim, e diz-me que não está tudo bem mas que agradece o facto de eu ter perguntado. Ouvindo-a, antes de me ir embora, deixei-lhe um sorriso, tendo esta, devolvido um pequenino, mas com brilho no olhar, deixando o meu também brilhante.
Este momento, fez-me questionar relativamente à nossa dificuldade ou mesmo falta de vontade de falar com “desconhecidos”.
Estamos aqui todos com o mesmo objectivo: ser felizes; somos todos alcançados por tristeza, mágoa e dúvidas. No fundo, temos todos personalidades diferentes, maneiras diferentes de percorrer esta caminhada mas temos muito para partilhar, muito para dar e porque não percorrer este caminho sem que olhemos para os outros como desconhecidos?
“Diz o mestre:
Vontade. É uma palavra que nós devíamos colocar sob suspeita durante algum tempo. Quais são as coisas que não fazemos porque não temos vontade e quais aquelas que não fazemos porque são arriscadas?
Eis um exemplo de que confundimos com “falta de vontade”: falar com desconhecidos. Seja uma conversa, um simples contacto, um desabafo, raramente conversamos com desconhecidos. E achamos sempre que “foi melhor assim”. Acabamos por não ajudar e por não ser ajudados pela Vida.
A nossa distância faz com que pareçamos muito importantes, muito seguros de nós mesmos. Mas, na prática, não estamos a deixar que a voz do nosso anjo se manifeste através da boca dos outros.”
Do livro Maktub, de Paulo Coelho