“Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser só é possível se se aprender a ler, mas noutras dimensões que vão muito para além das meras necessidades instrumentais da leitura.
Ver, imaginar, sentir, reflectir, comunicar com os outros, recriar o próximo e o distante, saber que há outras paisagens, outros modos de viver, outras religiões, outras culturas são capacidades que se desenvolvem privilegiadamente nas experiências de leitura, na escuta de vozes que apelam para a nossa emoção, inteligência, imaginação, desde a mais tenra infância.
Oferecer às crianças e aos adolescentes essas oportunidades é cumprir os compromissos da educação para todos, é respeitar os direitos da criança, é contribuir para o desenvolvimento humano sustentável, é, em resumo, construir uma cultura da paz.
Também não há cidadania responsável, solidária e movida pelo sentido do bem comum se, desde cedo, se não viverem estas experiências que a escuta e a leitura podem revelar e que a escrita permite exprimir e interiorizar, tanto no espaço da família como de uma escola amiga.
Desde muito cedo, os valores do respeito por si, pelos outros e pelo que nos rodeia, o direito à opinião, o dever de participação na vida do grupo, a descoberta da música e da poesia, da literatura oral e escrita, do património intangível que alimenta a cultura familiar e comunitária, podem e devem ser experimentados, constituindo verdadeiros exercícios de cidadania e de estima do património.
Saber ler e gostar de ler, nesta concepção integrada, é também uma forma de realizar tudo aquilo que, no fecho do ano 2000, o ano da Cultura da Paz, jovens de todo o mundo reunidos na UNESCO, num manifesto exemplar, reclamaram aos adultos: o direito à felicidade.”
Maria de Lourdes Paixão